Amanda Cieglinski
Repórter da Agência Brasil
Brasília – O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, anunciou, na última
segunda-feira (19), que pretende
mudar a Provinha Brasil para permitir que ela seja um “termômetro” do nível
de alfabetização das crianças no país. O exame é aplicado desde 2008 a alunos do
2° ano do ensino fundamental e servia como ferramenta de uso exclusivo do
professor, para que ele tivesse um diagnóstico de sua turma. Com a mudança de
finalidade, especialistas apontam que o processo precisa ser feito com cuidado
para que as crianças de 8 anos, público-alvo da avaliação, não sofram pressão
diante da expectativa de escolas e redes de ensino pelo resultado.
“A alfabetização é um processo complexo que envolve vários fatores, inclusive
a questão familiar. As pesquisas apontam que o nível de escolarização dos pais é
determinante no processo de alfabetização. Determinar uma idade certa para que a
criança esteja alfabetizada, aos 7 ou 8 anos, é passar para ela uma
responsabilidade que ela não tem condições de cumprir”, acredita o
coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara.
A professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB)
Stella Bortoni defende que os resultados sejam utilizados para apoiar as escolas
que apresentem baixos índices de alfabetização. “Para levar um curso de educação
continuada para que os alfabetizadores tenham a oportunidade de se capacitar
melhor, por exemplo, é uma boa medida. A prova precisa resultar em políticas que
visem socorrer aquelas escolas ou sistemas cujos resultados estejam ruins”,
aponta.
A pesquisadora, especialista em alfabetização e letramento, avalia que os
cursos de formação de professor não dedicam esforço suficiente para preparar os
futuros alfabetizadores. “Alfabetizar não é um bicho de sete cabeças, mas é
preciso formar bons alfabetizadores que saibam o que estão fazendo”, diz. Ela
defende que a Provinha Brasil é um bom instrumento de avaliação e pode dar o
feedback que o sistema precisa para desencadear medidas de apoio.
Daniel Cara aponta que a pergunta central deve ser “qual é objetivo da
avaliação?”. “Se for para pressionar as redes e as crianças a serem
alfabetizadas na idade certa, não serve. Mas se for na perspectiva de criar um
pensamento de porque essas crianças não conseguem se alfabetizar, quais são as
dificuldades que elas têm, sim”, diz.
A julgar pelo uso que é feito dos resultados de outras avaliações
educacionais aplicadas pelo MEC, Cara defende que a mudança na Provinha Brasil
poderá resultar em uma “pressão equivocada sobre as crianças” em vez de
colaborar para processo de aprendizagem.
Para a presidente da União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação
(Undime), Cleuza Repulho, a mudança do perfil da Provinha Brasil pode ter
efeitos positivos “As avaliações organizam os processos, se a redes souberem
trabalhar e entender que são crianças de 8 anos [participando do exame], nós
vamos ter mais tempo para fazer um trabalho coerente. Como sempre, na primeira
vez, vai começar uma discussão de quem é melhor, quem é pior. Mas a avaliação
serve como diagnóstico para a gente mudar essa realidade. Não temos nenhum
problema com avaliação”, diz a presidente da entidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário